sexta-feira, 29 de abril de 2011

Porque dançar é sentir!

Transformar cada verbo em movimento. Coreografar o exercício do cotidiano. Expressar sentimentos, deixar o amor fluir. Apaixonar-se. Explorar os limites do corpo, tudo o que ele é capaz de fazer em cima de um palco. Suar. Sentir que cada movimento, cada gesto, faz parte de um todo. Deixar que o corpo tente desprender-se dele mesmo. Esticar. Perceber a intenção do outro para a sincronização dos movimentos. Ouvir. Explorar todos os espaços, exercer a criatividade. Improvisar. Encontrar na música a possibilidade de externar as coisas da mente através do corpo. Entregar-se. Enfrentar os limites físicos e criativos. Superá-los. Estudar com os mais experientes e aprender a melhorar. Observar. Entender o sentido de cada gesto, cada ação, cada frase. Dedicar-se.

O parágrafo é uma tentativa, ainda que pequena, de traduzir o significado da dança pra mim. O dia de hoje, 29 de abril, Dia Internacional da Dança, trouxe uma bagagem de sentimentos nostálgicos e atuais. Depois de mais de 10 anos longe da dança – dos cinco aos 10 anos eu fiz balé clássico, na Escola de Teatro e Dança da UFPa (ETDUFPa) – eu finalmente consegui voltar a fazer o que hoje eu classifico como “minha terapia”. Na Cia. Experimental de Dança Waldete Brito eu percebi, aos 22 anos, que o dançar ainda faz parte de mim, ainda pertence a mim. Fugi do balé clássico por querer fugir de normas. Entreguei-me à liberdade da Dança Contemporânea. Confesso estar apaixonada.

A dificuldade de desenvolver cada movimento é visível, para qualquer um – basta assistir a qualquer apresentação de Dança Contemporânea, ao vivo ou mesmo na internet. Às vezes, ao final da aula, paro para acompanhar o ensaio dos bailarinos da Companhia – que atualmente estão trabalhando/viajando com o espetáculo (Des)Vestidos. Tudo parece tão impossível! Admiro cada bailarino por conseguir desenvolver, tão naturalmente, cada movimento e por conseguir decorar toda a coreografia do espetáculo. Balé parece bem mais fácil – Natalie Portman que me desculpe, mas eu estou sendo bastante sincera.

Fato é que estou realizando um sonho: o sonho de poder voltar a sentir a dança. E a Contemporânea, com toda a sua complexidade, tornou-se, de longe, a minha categoria favorita. Uma pena Belém ainda não ter acordado para a beleza e benefício da Dança Contemporânea: a Cia. Da Waldete Brito é a única, até onde eu sei, que oferece essa modalidade aqui na capital. Sorte a minha já ter sido aluna da Waldete, na ETDUFPa, e já conhecer a competência que ela possui.

Para encerrar, desejo que todos aproveitem esse dia para conhecer um pouco mais sobre as diversas modalidades de Dança, em especial a Contemporânea. E que dancem, dancem muito! Porque dançar é sentir, é viver, é abstrair!

domingo, 17 de abril de 2011

Os 10 livros que marcaram a minha vida

Muitos, ao passar o olho por essa lista, vão dizer: “Credo! Que menina fútil, infantil, tosca! Como é ela pode deixar de fora clássicos do Machado, Graciliano, Guimarães, Drummond... isso considerando só a ala dos nacionais!! É um absurdo!”.

Bom, quanto à crítica de que sou “fútil, infantil e tosca” eu nem vou perder o tempo justificando. Até porque, se eu disser o contrário vou mentir pra mim mesma, e isso não é legal – dizem nas novelas. Mas quanto à seleção dos livros, eu explico: escolhi livros que, de alguma forma, marcaram uma época em minha vida, que mudaram minha visão de ver o mundo ou que simplesmente foram marcantes por algum motivo que não sei explicar qual é (talvez seja mesmo pela história). A lista não está em ordem de importância – o que tornaria a seleção ainda mais difícil – e sim em ordem cronológica de leitura. Segue:

1 – O Pequeno Príncipe, de Antonie de Saint-Exupéry



“Ah ta. Agora ela quer bancar a cult e dizer que leu Pequeno Príncipe. Ora, francamente!”. Calma, gente. Não é nada disso. Claro que eu sei que O Pequeno Príncipe é leitura obrigatória para toda e qualquer pessoa. Mas comigo as coisas aconteceram um pouco... diferente.

Eu sempre gostei de mexer nas coisas da minha mãe: roupas, sapatos, maquiagem e... livros. Acho que eu tinha uns oito anos quando vi na prateleira o livro do Pequeno Príncipe. Vejam: eu era menina, criança e vi um livro de história que trazia no título a palavra “príncipe”. Óbvio que eu logo peguei pra ler, acreditando que iria encontrar uma linda história de conto de fadas com um menino príncipe e uma menina princesa. (É a Disney influenciando a vida de dez em cada dez meninas!). Li todo o livro, mas não entendi nada – ou quase nada. Não tinha nada do que eu achava que tinha, e fiquei um pouco aborrecida por isso. Deixei de lado, abandonei. Aí, quando eu tinha uns 13 anos, resolvi reler e... fizemos as pazes. Ufa!

2 – Quem tem medo do escuro?, de Fanny Joly




Se eu bem me lembro, esse foi o primeiro livro que li sozinha, sem mamãe/irmã/irmão/pai do lado pra me ajudar. Antes dele eu só havia lido, sozinha, gibis da Turma da Mônica (que leio, com muito gosto, até hoje). Não lembro quanto anos eu tinha. Talvez uns seis ou sete, não sei.

O livro “Quem tem medo do escuro?” faz parte de uma coleção de livros infantis que tem por objetivo fazer desaparecer os medos mais comuns nas mentes das crianças. Para os que têm filhos (ou pelo menos querem ter), eu digo: FUNCIONA! Com uma linguagem simples, acessível a todos, o livro conta a história, curta, de uma menina bochechuda que tinha medo do escuro – e de como ela criava esse medo dentro da cabecinha dela. Ao final, a menina descobre que tudo não passava da imaginação dela e de que nada é o que parece ser. Até hoje eu tenho um pouco de medo do escuro. Mas o livro me ajudou muito a controlar e diminuir esse medo.


3 – Quem tem medo de dentista?, de Fanny Joly




Também é basicamente a mesma coisa. Faz parte da mesma coleção – infelizmente eu só consegui ter esses dois. Ajuda a criança a perder o medo de ir ao dentista. Comigo funcionou perfeitamente.

Esses dois livros foram, talvez, duas das melhores aquisições que meus pais já fizeram em nome dos filhos. E eu não vou emprestar nem doar a ninguém porque eles têm um valor sentimental muito grande e também porque quero que meus filhos possam ler um dia. No máximo permito que tirem xerox, e só.

4 – Coleção BARSA




Em uma época sem internet (pelo menos na minha casa não tinha sequer computador), a Coleção Barsa, adquirida pelo meu pai (ótima aquisição, pai!), era a maior salvadora dos três estudantes de Ensino Fundamental daqui de casa. Em todo e qualquer trabalho, toda e qualquer prova, a Barsa era nossa principal fonte de pesquisa. Lá tem de tudo! Confesso que lia mais porque gostava das fotos e figuras. A edição que fala sobre o corpo humano é incrível! Fotos bem detalhadas, em transparências. Lindo! A Coleção continua até hoje aqui em casa. Ninguém conseguiu se desfazer dela. Melhor assim!

5 – Mariana, de Pedro Bandeira




Adquiri esse livro em uma feira de livros usados, realizada pelo Colégio Ideal. Adquiri por uma questão óbvia: o título. Eu, no início da adolescência, comprei um livro que contava a história de uma Mariana que estava no início da adolescência. Perfeito!

O livro fala sobre menstruação, sutiãs, romances na escola, brigas entre amigas, festinhas... Acho que foi o primeiro livro que eu li que falava sobre beijo na boca e possíveis tentativas de fazer sexo, ou algo perto disso. Li “Mariana” três vezes, o que me ajudou a enfrentar melhor a aborrecência. Também pretendo guardar esse livro para quem vier a precisar. É bem bonitinho!

6 – Lolita, de Vladimir Nabokov




Uma bela bosta! É isso o que posso dizer, para ser bem resumida. Foi o primeiro livro que eu não consegui ler até o final, de tão ruim que era. Chato, muito chato! Cansativo e nojento, como disse uma vez a minha mãe. A história de um quarentão que se apaixona por uma menina de doze anos não merece a minha atenção, muito menos meu elogio. Pra quem ainda não leu, afirmo: não-perdeu-nada!

7 – A Princesa, de Jean P. Sasson




Esse é incrível! Um dos melhores e mais chocantes que já li. É a história de uma princesa da Arábia Saudita que, anonimamente, contou sua trajetória a Jean, tendo o livro como resultado. A riqueza de detalhes é impressionante! Dá pra conhecer bem de perto como vivem as mulheres mulçumanas em um país tão machista quanto à Arábia Saudita. Uma das piores partes – na verdade, uma das mais chocantes – é quando a princesa conta como foi o processo de circuncisão – ao qual as mulheres são obrigadas a passar. Chorei e senti as dores em mim. Horrível! Mas vale a pena ler, com certeza vale!

8 – Dom Casmurro, de Machado de Assis




Depois de ter sido obrigada a ler O Alienista, quando eu tinha 16 anos, porque era leitura obrigatória de vestibular, fiquei, confesso, um pouco traumatizada com Machado de Assis. Achei, e acho até hoje, O Alienista chato, apesar de interessante. Eu sabia que eu não poderia ficar de mal com Machado de Assis, então, pouco tempo depois, comprei o livro Dom Casmurro para tentar desfazer o trauma. Funcionou! A história de Capitu, Bentinho e Escobar é realmente incrível. Machado é um gênio, sem dúvida! Cheguei a ter um blog com o título de Capitu, porque me identificava, e ainda me identifico, com os olhos de ressaca, de cigana dissimulada, que Machado descreve. Apesar de saber que Capitu não é flor que se cheire, eu sou super fã dela.

O problema é que, na maioria das vezes, quando alguém fala sobre a Capitu, pensam logo que é sobre a personagem de Giovana Antoneli, na novela Laços de Família. Aí ferra tudo, não tem condições! E por falar em Capitu, se alguém souber onde posso encontrar o DVD com a séria (linda!) que exibida pela Globo, por favor avisa! A Som Livre chegou a anunciar a venda uma vez, mas lembro que era bem caro. Mas talvez hoje eu possa comprar, não sei...

9 – Ela é Carioca, de Ruy Castro




Escrito como uma espécie de enciclopédia, o livro conta traz perfis e conta histórias das principais personalidades que viveram em Ipanema, Rio de Janeiro. Histórias que marcaram uma época, influenciaram gerações. A maior parte é bem engraçada. Ruy Castro traz ainda frases ditas por essas personalidades. É cada uma melhor que a outra! Foi por meio desse livro que conheci a história de Leila Diniz. Me apaixonei! Uma das pioneiras da revolução sexual dos anos 60/70, Leila ensinou muito às mulheres da geração dela e de gerações seguintes.

10 – O Diário de Anne Frank




Mamãe me deu esse livro de presente. Foi um dos que mais marcaram a adolescência dela. Herança que ela fez questão de me repassar, e eu gostei. Escrito na época da Segunda Guerra, o livro conta detalhadamente os problemas enfrentados pela pequena menina judia, Anne Frank. Mais chocante que o livro, só o filme mesmo. Aliás, uma das poucas vezes que um filme conseguiu transmitir bem o espírito do livro em que foi baseado.

Despois vieram me dizer que a Anne não existiu e que o livro é uma história de ficção. Preferi não acreditar nisso, até porque faz perder toda a magia do livro. Na minha cabeça, tudo foi verdade, uma cruel verdade. Pra quem ainda não leu, vale a pena.

Precisei deixar de fora muitos e muitos livros importantes pra mim. Mas uma lista de 10 livros é uma lista de 10 livros. Então...

“A dor nunca diminui. A gente apenas aprende a conviver com ela.”

“Mas não se é educado ao morrer, não se diz com licença. Saímos porta afora sem avisar.”

Este é um trecho de uma crônica de Fabrício Carpinejar, que foi publicada na edição de março da Revista Bravo! Eu ainda não havia lido nada do famoso Carpinejar. Uma pena! Porque eu não lembro de ter lido nada tão verdadeiro, profundo e tocante quanto essas duas frases, juntas.

Nessa mesma edição da Revista Bravo! li uma reportagem que falava sobre a quebra de tabus - praticada pela revista Realidade, na década de 60 – e, logo depois, li a crônica de Carpinejar, já lá pelas últimas páginas da Bravo!. Assim, percebi, e decidi, que essa era a oportunidade certa para eu [tentar] quebrar alguns tabus que persistem em continuar na minha vida.

Uma vez, numa mesa de bar, conversávamos sobre suicídio e as tentativas frustradas recorrentes no mundo dos famosos e anônimos. Em meio à conversa, uma colega declarou, mais ou menos assim: “Gente, na boa, quem quer realmente se matar não fica com essa frescura de remédio, corte de pulso e tal, simplesmente se joga e pronto!”. Todos se calaram, se entreolharam. Eu virei pra ela e disse: “É, tens razão.”. Rapidamente ela percebeu a situação em que havia se colocado e se pôs a me pedir desculpas, muitas desculpas. Mas não era necessário, não mesmo. Ela tinha razão e eu jamais fiquei chateada por isso.

Como disse Carpinejar, não se pede licença ao morrer, saímos sem avisar – em boa parte das vezes. Interpretar literalmente essas frases e relembrar a constante existência delas na minha vida não é nada fácil, confesso. Talvez por doer tanto em mim eu fale tão pouco a respeito. (Na verdade, tem muita coisa que eu deveria falar mas não consigo. Mas isso é assunto pra outra história). Vivenciar situações trágicas, mortes trágicas, quando se tem apenas sete anos de idade – ou melhor, quando se tem qualquer idade! – é um trabalho diário de autocontrole que, no meu caso (e incluindo minha família, claro), já dura cerca de 15 anos.

No dia em que meu irmão morreu – no dia em que ele saiu porta afora, sem avisar e/ou pedir licença, e se jogou do parapeito do décimo andar do prédio onde moro até hoje – lembro tão claramente, e dolorosamente, de irmã tentando me distrair com um carrinho azul e segurando uma foto 3x4 do Ângelo – foto essa que carrego comigo até hoje. Na ocasião em que foi fotografado ele tinha 14 anos. A mesma idade com que decidiu não pertencer mais a esse mundo, em meados de 1996. Como eu era muito nova, tenho menos lembranças dele do que eu gostaria de ter. Então guardo essa foto, com o maior cuidado, pra que eu nunca me esqueça do rosto dele, já que da voz eu estou quase esquecendo.

Fazer com que crianças, tão novas quanto eu era, entendam a morte é complicado. Lembro que no dia da morte de meu irmão, muitas pessoas apareciam na minha casa com caras bem tristes e sem saber o que dizer/fazer. Chegavam perto de mim, me davam um beijo na testa e diziam: “Não fique assim. Pense que ele está em um lugar melhor”. O problema é que não estava triste pela morte dele em si, eu estava triste por todas as cenas pós-morte que eu assisti: todas as coisas do armário dele jogadas pelo chão, papai chorando copiosamente ao telefone e mamãe se debatendo na cama, tentando se soltar de umas oito mãos que a seguravam.

Eu não sabia que meu irmão havia morrido. Eu não sabia o que era morte. Na minha, até então ingênua, cabeça, meu irmão tinha fugido de casa – com uma trouxinha igual a do Chaves, levando cueca, biscoito e brinquedo. E quando as pessoas diziam que ele havia partido para um lugar melhor, eu imaginava que ele tivesse fugido para um parque de diversões, para um clube com piscina, para a casa do melhor amigo, para Mosqueiro... sei lá! Para lugares que crianças gostam de ir.

Meus pais não me deixaram ir ao enterro, mas “permitiram” que eu fosse ao velório. Hoje, eu penso que deveriam ter feito o contrário. Mas como cobrar alguma coisa de alguém que acabou de perder um filho? Enfim. O fato é que guardo até hoje a imagem do meu irmão deitado em um caixão, com flores ao redor, com algodão no nariz, na orelha e no canto da boca, com marcas roxas no corpo e muita gente chorando ao redor. Cheiro de naftalina pra mim é uma grande tortura! Era o cheiro do caixão. E toda vez que sinto esse mesmo cheiro, em qualquer lugar que seja, lembro desse dia e sinto que meu irmão está por perto.

Os dias pós-morte foram passando e eu continuava a não entender muito bem o que estava acontecendo. Durante uma semana teve novena na minha casa. Lembro muito pouco da missa de 7° dia, realizada na capela do colégio Gentil (onde a gente estudava). Mas lembro que foi linda. Chorei de saudade – afinal, há uma semana meu irmão não aparecia pra brincar comigo ou cuidar de mim – e de ver outros chorando. Acho que foi a partir desse dia que eu abandonei a ideia de que ele havia fugido e passei a acreditar que ele apenas estava escondido em algum armário lá de casa. Acho que foi por conta da imagem, do dia da morte dele, de ver todas as coisas jogadas pelo chão. Lembro que, muitas e muitas vezes, eu parava em frente a algum armário e esperava o Ângelo aparecer, e até mesmo dizer que tudo aquilo não passava de uma brincadeira de esconde-esconde.

Eu contava aos meus amigos da escola que meu irmão tinha morrido, mas sem entender o real significado daquilo que eu estava contando. Talvez tenha sido só a partir de 1998, quando o meu avô (meu querido avô!) faleceu, por causas naturais, que comecei a entender o que era a morte. Chorei tanto, tanto, nesse dia que hoje eu acredito que tanta lágrima era lágrima acumulada de dois anos. A ficha finalmente havia caído. Meu irmão estava morto por conta de um suicídio e meu avô por conta de um infarto. Era o fim! E eu chorava, chorava, chorava... até não poder mais. Chorava muitas vezes sem saber o porquê, e chorava ainda mais. Hoje eu já não derramo mais tantas lágrimas, mas por dentro...

Eu sempre lembro do meu avô, principalmente em situações engraçadas. Minha família gosta muito de contar as várias histórias dele – que são realmente hilárias. Do meu avô (Seu Wilson!) eu quase sempre tenho uma lembrança feliz. Talvez porque ele morreu mais ou menos no tempo certo, de forma mais ou menos certa, quando já tinha realizado muitos dos seus desejos, dos seus sonhos.

Já sobre o meu irmão... Um dia desse, não faz muito tempo, me dei conta de que, em 15 anos, não houve um dia sequer em que eu não tivesse lembrado dele. Na maior parte das vezes, isso acontece antes de eu dormir. E não importa a quantidade de lembranças felizes que eu tenha, todas, inevitavelmente, sempre serão seguidas das lembranças do dia 25 de agosto, dia da morte dele. Portanto, lembrar do meu irmão é sempre muito doloroso, apesar de me fazer bem e de exercitar a memória. Às vezes, lembrando dele, fico triste sem perceber. Dá uma saudade...! E não é, óbvio, igual à saudade que a gente sente quando o namorado está viajando ou quando alguém que gostamos muito vai morar em outra cidade ou outro país. É uma saudade tão profunda e tão cruel que não se consegue sequer descrever!

Certa vez ouvi minha mãe conversar ao telefone com uma amiga que havia acabado de perder o filho – um rapaz muito bom, inteligente, e que lutou a vida inteira pra sobreviver. Ao tentar confortar a amiga, lembro de minha mãe dizer uma frase tão tocante, e memorável, quanto às do Carpinejar: “A dor [da perda de um filho] nunca diminui. A gente apenas aprende a conviver com ela, a se acostumar com ela”. E desde então eu passei a ter um medo maior de morrer e até mesmo de ter um filho.

PS: Hesitei, várias vezes, em escrever e publicar um texto sobre esse assunto. Primeiro porque eu sabia que choraria ao digitar cada parágrafo (o que realmente aconteceu) e segundo porque sempre achei desnecessário compartilhar tais lembranças e sentimentos com outras pessoas. Mas, pensando melhor, externar tais coisas pode me fazer bem e pode servir de alguma utilidade para quem ler. Então...