domingo, 21 de outubro de 2012

Retrospectivando a teledramaturgia em 2012


Quando finalmente decidi que seria pesquisadora em teledramaturgia e teria minha vida acadêmica (TCC, Mestrado e Doutorado) guiada por esse tema, ainda era março de 2012, final da minha eterna telenovela favorita A Vida da Gente – do horário das 6 – e sequer desconfiava o que ainda estava por vir nos horários nobres (ou quase nobres) da Rede Globo. Cheias de Charme, no horário das 7, e Avenida Brasil, no horário das 9, completaram a avalanche de inovações em telenovelas – nem menciono Gabriela porque não consegui assistir a um capítulo sequer.

Como já disse – acima e em texto mais antigo publicado neste blog, “A Vida da Gente”, escrita por Lícia Manzo, trouxe para a tela personagens e diálogos (e monólogos!) nunca antes vistos na televisão. A fórmula já havia sido maciçamente usada por Manoel Carlos, mas Lícia completou com sal temperado – se é que me entendem. Personagens tão verossímeis que chegavam ao ponto de incomodar o telespectador. Às vezes, a sensação era a de que a nossa vida privada tinha sido invadida ou observada sem percebermos. Não foi à toa, e todos sabem disso, que chorei em todos os capítulos dos dois primeiros meses de novela. As atuações e a máxima ausência de clichês nos textos colaboraram, e muito, para isso. Lícia soube explorar o “retratar a realidade” a seu favor.

Apesar de não ter sido sucesso de audiência – justificado, talvez, pela profundidade nos dramas dos personagens, quase sem ter momentos de leveza e divertimento, e pela menor dinamicidade comumente vista em outras tramas, “A Vida da Gente” serviu, também, como mais um trampolim de experimentações, uma espécie de telenovela piloto para mostrar o que ainda está por vir. Experimentações em fotografia e técnicas de filmagem (os ângulos das câmeras já não eram os mesmos de sempre, os objetos de cena misturavam-se com os atores... várias possibilidades foram executadas tendo o cinema como inspiração principal), além da experimentação de novos autores – para renovar o quadro já exaustivo, novas formas de narrativa e novos enredos. Lembrando que essas inovações já estavam sendo explicitamente testadas antes – em Cordel Encantado, por exemplo, que não pude acompanhar como gostaria e outras anteriores também de época.

[link para a cena em que Ana e Manu brigam - a minha preferida e com o melhor texto que já ouvi - e decorei: http://tvg.globo.com/novelas/a-vida-da-gente/capitulo/2012/2/14/ana-procura-manu-e-as-irmas-discutem.html]

VIDA DE EMPREGUETE
Dias depois, a Globo entregou um verdadeiro presente aos fãs de teledramaturgia: Cheias de Charme, no horário das 7. Apesar de ter entrado na lista das minhas telenovelas preferidas, não escrevi para cá nada específico sobre ela. Não por falta de vontade, preguiça ou criatividade, mas sim porque o fenômeno “Cheias de Charme” rendeu uma quantidade absurda de textos e artigos publicados na Internet e em meios acadêmicos que nunca vi em nenhuma outra ocasião. É só “googlar” para saber do que estou falando.

“Empreguetes” (como ficou mais conhecida e como prefiro chamar) inovou em tudo, ou quase tudo, que poderia. A começar pelos autores estreantes: Filipe Miguez e Izabel de Oliveira – alguém já tinha ouvido falar no nome deles? Eu não. Não que eu lembre. Os dois, talvez sem muita pretensão, decidiram escrever uma trama em que a figura da empregada doméstica fosse a protagonista. É possível que muitos não se deem conta da representatividade que a ideia tem: criar não só uma, mas três empregadas domésticas, de fato, como protagonistas é como se os autores gritassem “a classe D e C estão aí, reivindicando espaço, querendo e merecendo ser representadas como são e como gostariam de ser”. E assim foi! A empregada chefe de família, a empregada cantora e a empregada sonhadora mostradas de forma igualitária ao lado da também protagonista Chayene, rainha do eletroforró e inimiga das três.

Mas o maior trunfo de Empreguetes, que foi e está sendo freneticamente estudado, é a mudança de postura que a Globo assumiu com relação à Internet. Pela primeira vez (sim, porque aquele blog fuleirinho da Luciana, de Páginas da Vida, era apenas um aperitivo para os mais desocupados, um teste de como o meio digital poderia ser usado a favor das tramas da emissora), a Internet funcionou para alavancar e direcionar os rumos da novela. O tempo inteiro havia troca entre o meio televisivo e o digital, um trabalho fantástico de transmídia que deu (e muito!) certo.  

OI OI OI
Já com o horário das 9, o cuidado foi redobrado. Há meses a Globo vinha patinando e se perdendo com telenovelas que nada ou quase nada de novo tinham a acrescentar. Uma situação perigosa para o horário mais importante da emissora. A escolhida para reverter esse quadro foi Avenida Brasil, de João Emanuel Carneiro.

Com uma temática já batida (vingança, justiça, traição e blá blá blá), a novela veio com um elenco afinado, com texto bem trabalhado e com as técnicas de cinema na ponta da mão. Fotografia cheia de detalhes, câmera na mão, frases de efeito, muito suspense e atores que sabiam muito bem o que precisavam fazer (até o Murilo Benício conseguiu melhorar durante a trama).

“Avenida Brasil” não revolucionou o gênero, mas foi necessária. O sucesso e a projeção que recebeu não seriam possíveis sem a Internet. O autor soube aproveitar os benefícios (e malefícios) desse meio. Os textos – e abertura - eram, digamos assim, fábrica de “memes”, construídos justamente para impregnar as redes sociais e alavancar público e audiência. Aliado a isso, ainda vinham a narrativa acelerada e as reviravoltas dos personagens.

No entanto a novela decepcionou. Sozinho (e tendo que escrever mais de 100 páginas de roteiro por dia, provavelmente), o autor não deu conta de levar até o fim o ritmo a que se propôs. Já pelo meio, a trama se perdeu, os furos de roteiro ficaram ainda mais visíveis, os personagens secundários tornaram-se terciários. O núcleo da casa do Tufão ganhou uma projeção tão grande que ofuscou os outros núcleos e todas as tentativas para mudar esse quadro não deram certo como deveriam. A obra ficou maior que o previsto, maior do que o autor poderia suportar. A última semana, eu diria, foi trágica. Nada parecia fazer sentido, tudo parecia ter sido feito às pressas e de qualquer jeito. Uma pena!

Mas, apesar dos erros, “Avenida Brasil” cumpriu seu papel. Levou a classe C ao pódio principal, interagiu com o público por diversos meios, emplacou de vez as inovações técnicas no horário e discutiu temas importantes à sociedade. Um dos principais foi a poligamia, vivida pelo núcleo de Cadinho e de Suelen. Temática delicada, ainda desconfortável, mas que precisa ser trabalhada assim como foi, em décadas passadas, o homossexualismo. Mas o autor, talvez pela própria pressão da sociedade, não soube explorar bem a potencialidade do tema e dos personagens. Se não fosse pelos atores, os dois núcleos teriam sido um verdadeiro desastre.

CONCLUINDO
Todas as mudanças, “revoluções”, inovações e surpresas das novas telenovelas são resultado de décadas de pesquisa que a Rede Globo vem desenvolvendo. Pesquisas, principalmente, sobre TV Digital. Todas as experimentações (que estão finalmente sendo mostradas) são tentativas de se adequar à nova tecnologia que traz novas formas de consumo e de apropriação dos produtos. Era preciso reconquistar o público que estava sendo, um pouco, perdido para a Internet. Era preciso adequar-se às novas plataformas, trazer profissionais, histórias, temáticas e técnicas novas, reformular o quadro e as fórmulas utilizadas por décadas durante o período de TV analógica.

Além disso, era preciso adequar-se à nova realidade social e econômica do país. A classe C tomou conta do mercado e incluí-la como principal em produtos televisivos era necessário. É a classe que atualmente mais gera lucro e valor aos produtos. Era preciso representá-la na TV da forma como ela é, e não só como gostaria de ser, para não perdê-la ainda mais de vista, como vinha (e está) acontecendo por conta das TVs por assinatura – com cada vez mais adeptos no país, principalmente os da classe C.

A teledramaturgia brasileira assumiu um novo caminho (riquíssimo para quem a estuda) e assim será, ou tentará ser, pelos próximos anos. Os antigos teledramaturgos estão sendo aos poucos aposentados para dar lugar aos novos, com novas ideias e novas funções. Uma transformação que só tem a beneficiar emissora e telespectador, como foi o caso das três novelas acima citadas. Infelizmente (ou felizmente) ficarei agora um bom tempo sem acompanhar novelas. Falta tempo para assistir a das 6 e a das 7 e, quanto à nova das 9 que começa agora... Não sou obrigada a arder no mármore do inferno com mais uma bomba de Glória Perez. Não mesmo! Mas depois de uma novela ruim, quase sempre vem uma boa para compensar (ouviu, Globo? Colabora!). 

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Uma comédia que de “intocável” não tem nada


“Intocáveis”... É um título um tanto quanto inadequado se for pensar na sensação que o filme deixa nos espectadores depois da sessão. Um pouco difícil também apreendê-lo como uma comédia, conforme classificação feita pelos críticos. Nem mesmo a trilha sonora colabora para isso. Mas definitivamente Intocáveis é engraçado, muito engraçado. Confesso ter tido crises de riso em algumas cenas, intercalando com quase choros. Talvez uma comédia romântica diferente do que estamos acostumados a ver? Pode ser...

Lançado em 2011 e com mais de 20 milhões de espectadores só na França, país de origem, “Intocáveis”, escrito e dirigido pela dupla Eric Toledano e Olivier Nakache, narra uma história baseada em fatos reais em que Philippe (interpretado por François Cluzet), um aristocrata rico que fica tetraplégico depois de sofrer um acidente em um voo de parapente, precisa contratar uma pessoa para lhe ajudar no dia a dia. Depois de dispensar vários candidatos qualificados para o cargo, Philippe decide contratar Driss (interpretado por Omar Sy), um senegalês recém-saído da prisão que se inscreveu para a vaga só para conseguir uma assinatura e poder receber o auxílio desemprego do Governo.

Cansado de ser motivo de pena e compaixão dos que o cercam, Philippe se interessa por Driss justamente pela falta disso. A relação entre os dois começa com uma aposta: a de que Driss não aguentaria trabalhar na mansão de Philippe por mais de uma semana. Ao se sentir desafiado, Driss decide aceitar o serviço, rendendo algumas das cenas mais hilárias do filme. Sem experiência e tato nenhum para esse tipo de trabalho, o senegalês passa por situações constrangedoras, como a de trocar produtos durante o banho ou ter que vestir as meias terapêuticas em Philippe.

A melhor classificação que Driss poderia receber é a de “ogro”. Um homem típico da periferia de Paris, sem modos, acostumado a resolver os problemas à base da gritaria e da ameaça – filosofia que, para ele, funciona muito bem; que não sabe se comportar em um museu de obras de arte ou durante uma ópera no teatro – aliás, a cena da ópera é uma das mais engraçadas que já vi. Mas na verdade, Driss é, como ele mesmo se define, pragmático, sem rodeios, sem se preocupar com o que os outros vão pensar a respeito das suas opiniões ou preferências. Confesso uma identificação com Driss em algumas situações. E pelas reações dos que estavam assistindo ao filme, com certeza não fui a única pessoa a se enxergar como o personagem.

Já Philippe, ao lado das outras pessoas que moram com ele na mansão, é um típico aristocrata francês, preso em seu mundo dedicado a contemplar obras de arte (de gosto um tanto quanto duvidoso, como o próprio Driss assinala), música clássica, poesia, literatura, óperas... Os dois personagens, que inicialmente parecem não ter qualquer tipo de semelhança entre si, representam as duas faces mais opostas de Paris (e de tantas outras grandes cidades), mostrando o cotidiano da periferia e o da classe alta francesa.


Driss faz pouco da situação de Philippe e se diverte com isso. O que pode parecer - e às vezes talvez seja - piada de mau gosto sobre a deficiência física é, na verdade, uma maneira inconsciente que Driss encontra para tornar Philippe mais humano, trazê-lo para a realidade, tirá-lo da bolha protetora em que o colocaram desde o acidente; fazer com que Philippe lembre que ainda está vivo e ainda tem motivos para rir e ser feliz. A relação de amizade e parceria estabelecida entre os dois me fez lembrar muito o filme “Sempre Amigos”, aquele que todos nós já vimos sobre o menino Kevin, superdotado, mas com uma doença que o impede de se locomover, que se torna amigo de Max, um rapaz de 14 anos com dificuldades de aprendizado.

Como já deu para perceber, o grande destaque do filme é a atuação de Omar Sy. Seu porte físico, o sorriso, a maneira de andar, o timbre a voz e a desenvoltura, fazem do personagem que o ator interpreta um ser assustador e ao mesmo tempo carismático. A vontade que dá é a de também ser amigo de Driss. O trabalho em Intocáveis rendeu a Omar Sy um prêmio César, o Oscar francês, na categoria de melhor ator, desbancando o ganhador da premiação norte-americana Jean Dujardin, protagonista de O Artista.

Intocáveis é a produção francesa mais assistida de todos os tempos, ficando à frente de filmes como o já mencionado O Artista e O Fabuloso Destino de Amelie Poulain. No entanto, o longa possui algumas falhas de roteiro e direção que podem passar despercebidas diante do êxtase das cenas engraçadas ou emocionantes. Toledano e Nakache falharam um pouco ao não extrair mais profundamente dos dois personagens principais a característica que dá título ao filme. Já no início ficamos com a impressão de que Philippe e Driss não são tão intocáveis assim como dizem as más línguas. Talvez tenha sido mesmo essa a intenção dos diretores, mas acho que isso não precisava ficar claro logo no início da projeção.

Mas ainda assim o filme consegue ser deliciosamente bom, com um timing excelente para a comédia e a dose certa de drama necessária para aproximar os personagens. Enfim, um filme tocante, apesar do nome, que nos deixa a sensação de ser mais uma obra-prima do cinema francês. Ao melhor estilo Driss, apostaria 100 euros – se eu tivesse, claro – que não há como se arrepender em assistir a esse filme.

Curiosidade
Na vida real, o milionário tetraplégico Philippe Pozzo di Borgo contrata o algeriano Abdel Sellou para ser seu ajudante. Os roteiristas e diretores Érico Toledano e Olivier Nakache transformaram as histórias contadas por Philippe no livro “O Segundo Suspiro” em uma comédia dramática, em que o personagem de Omar Sy é, no filme, um senegalês.

PS: O trailer é um tanto fraco, longe de passar a emoção do filme, mas é sempre bom conferir, né? 

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Vida de Cachorrete

Por sugestão de Felipe Jailson e Marília Jardim, segue minha linda homenagem à mais nova integrante da família, a Penha.



Todo dia acordo cedo
Fico longe do meu berço
Quando chega a minha dona, quero passear
To sempre cheia de ração
Faço xixi e cocô no chão
E a dona quer ver pulga até onde não há

Queria ver a minha dona aqui no meu lugar, ia latir de me acabar
Queria ver a minha dona aqui no meu lugar, com banho chato pra tomar

A poodle quis deixar bem liso o cabelo dela
E a yorkshire riu que só da cara dela
A chihuahua toda chata, late tão desesperada
Só sabe reclamar, nunca faz nada

Queria ver a minha dona aqui no meu lugar, ia latir de me acabar
Só vendo a minha dona aqui no meu lugar sem uma bola pra brincar

Refrão
Eu sou uma cachorrete, acordo às sete
Fim de semana to no pet pra poder charlar
Um dia eu gravo um filme besta em que os cachorros falam
Toda estrela vou com a minha dona passear

Au au auauauera au au auauauera au au auauaaaa


TE AMO, PENHA!

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Mary & Max: uma lição sobre autismo e amizade


Em uma conversa sobre autismo, uma grande amiga minha, que hoje é psicóloga, mostrou o trailer de um filme feito de massinha e praticamente sem cor. Achei estranho, mas fiquei interessada pelo roteiro (baseado em fatos reais) e pelo trailer – com uma trilha sonora fofinha. Minha amiga disse que o filme poderia ajudar no trabalho e na formação acadêmica da minha irmã, estudante de Psicologia. Depois de um tempo, quando tive mais paciência e disposição, resolvi arriscar e loquei o filme (lá na Fox Vídeo) para assistir.

Na locadora, o filme pode ser encontrado na prateleira de “comédia”. Com essa classificação pensei: “vou até fazer pipoca, o filme parece ser divertido”. Mas aí veio a surpresa que até hoje não sei dizer se foi boa ou ruim. A comédia era, na verdade, um drama (tragicômico talvez?). Imaginem vocês: um drama feito de massinha, todo fofo (apesar da quase ausência de cores), com jeitinho de inocente e inofensivo.

Mary & Max (2009), escrito e dirigido por Adam Elliot é, provavelmente, um dos melhores e mais surpreendentes filmes que já vi. É claro que o fato da história ser real contribui bastante para essa minha conceituação. Mas não é só isso. A história é bem contada, de forma leve (e até divertida – daí a justificativa de ser “comédia”), tratando de assuntos tão delicados com uma linguagem acessível, próxima da nossa realidade, do nosso cotidiano.

O ENREDO
Vamos então ao enredo. Mary é uma criança australiana de 8 anos, filha de uma mãe alcoólatra e displicente. Portadora de um “nível mais leve” (se é que eu posso chamar assim) de autismo, Mary não tem amigos, não tem com quem conversar, com quem trocar experiências. Certo dia, vasculhando uma lista telefônica, decide escolher aleatoriamente uma pessoa para mandar uma carta, tentar uma amizade, uma forma de se comunicar. E o nome escolhido para uma possível amizade é Max.

Max é um nova-iorquino com mais de 40 anos que mora em apartamento quase sem móveis, tendo como companhia um aquário onde vive apenas um peixe. Portador de um “nível mais grave” de autismo, Max não tem família e também não tem amigos. É obeso, judeu e virgem. Quando chega a carta de Mary – uma completa estranha que mora do outro lado do mundo - reacende em Max a esperança de ter enfim um amigo, alguém com quem ele possa conversar.

Mary, como toda criança curiosa, vê em Max uma oportunidade de esclarecer dúvidas banais e corriqueiras, dessas que as crianças costumam ter, mas nem sempre tem para quem perguntar. Coisas como “de onde vêm os bebês?”, “o que é camisinha?”, “o que é o amor?”, entre outras perguntas inocentes, típicas da idade dela. No entanto, esses questionamentos acabam por despertar em Max lembranças, traumas, perguntas nunca respondidas que voltam a perturbá-lo carta a carta. Max acaba respondendo às dúvidas de Mary com a mesma inocência com que ela perguntou. Em uma das cartas, Mary pede conselho a Max sobre como ela deve reagir quando os colegas da escola a maltratarem. Max sofre então uma crise de autismo ao relembrar de todas as vezes em que apanhou na escola, quando criança, por ser autista, obeso e judeu. Pra mim, essa é uma das cenas mais marcantes do filme.

A troca de cartas entre os dois dura anos, mais de uma década. Algumas delas são acompanhadas de fotos, barras de chocolate, latas de leite condensado, bonecos colecionáveis, entre outros anexos, conforme um vai conhecendo o outro, sabendo o que gosta, o que não gosta e o que gostaria de conhecer. Sem nunca se encontrarem, Mary e Max criam um laço de amizade que para nós pode parecer bobo, sem muita importância, mas para eles é o único laço construído durante anos de vida, o único meio de comunicação com o mundo. Passados alguns anos, depois de casar e enfrentar uma separação, Mary usa o caso clínico do amigo Max como objeto de pesquisa acadêmica que logo é transformada em livro. O livro, que talvez seja uma maneira de Mary tentar entender a si mesma, acaba criando uma série de situações que levam Mary a Nova York para finalmente encontrar Max. Mas o resultado desse encontro, é claro, não vou contar. É um spoiler cruel demais, não me autorizo.

Uma das coisas que mais chama a atenção no filme são as cores (ou ausência delas). O universo de Mary é todo retratado em tons de sépia, combinando com o ambiente rural e interiorano do lugar onde ela mora, além de trazer uma serenidade e inocência que fazem parte da personalidade da personagem. Já o universo de Max, em uma das maiores cidades do mundo com todos os problemas que tanta grandiosidade oferece, é todo em preto e branco, meio sem graça, sem perspectivas e sem esperanças. Nada mais adequado para um homem com mais de 40 anos que nunca namorou, nunca teve amigos nem filhos nem dinheiro.


LEMBRANÇAS
Se eu fosse professora de crianças, certamente usaria Mary & Max como didática com os meus alunos. Por trás de todo o valor que pode haver em uma amizade, com todos os seus altos e baixos, o filme trabalha a temática do autismo de uma forma tão delicada quanto à própria doença – se é que eu posso chamar assim.

A história dos dois me fez lembrar dos meus tempos de colégio. Na minha sala estudava um menino que, na época, chamávamos de estranho/ pomba lesa/ doido, essas coisas maldosas que as crianças fazem até hoje com os colegas. Ele, tal qual Max ou Mary, não conseguia criar laços de amizade com ninguém da escola. Volta e meia, sofria umas crises estranhas em que tapava os ouvidos, balançava o corpo pra frente e pra trás e fazia ruídos com a boca. Nem preciso falar que isso era motivo suficiente para que todos na sala ficassem rindo, ridicularizando o menino. Com o tempo, e com a insistência dos professores e coordenadores, nós fomos aprendendo a conviver com ele, buscando maior aproximação e diminuição do bullying.

Anos depois, quando eu já estava na faculdade, lembrei desse menino e fiquei pensando o que teria acontecido com ele (pergunta que me faço até hoje). Repassando na memória os acontecimentos em sala de aula, finalmente me dei conta de que meu colega era autista. Mais tarde, percebi algo bem pior: de que os pais e os professores nunca souberam como lidar com a situação. Nunca disseram aos alunos por que o menino era assim, nunca nos explicaram o que era autismo e por que precisávamos constituir uma amizade com o garoto. Não sei se por resistência dos pais ou se por incompetência dos professores. Só sei que isso com certeza prejudicou o menino e atrasou o amadurecimento dos alunos como seres humanos.

Com Mary & Max eu sinceramente espero que esse tipo de situação, esse despreparo das escolas e até dos pais em lidar com o autismo seja diminuído e diluído aos poucos.


Apesar de ter sido classificado pela crítica especializada como “comédia”, o filme me fez chorar (tá, tem alguns momentos que são engraçados, mas é aquele engraçado do tipo “rir pra não chorar”, sabe?), trouxe lembranças um tanto quanto amargas (além dessas das quais falei) e as boas também. Sem dúvida, é um daqueles filmes que a gente coloca no cantinho especial da prateleira cinéfila.

OBS: Quando fomos devolver o filme na Fox Vídeo, reclamamos ao vendedor sobre a classificação de gênero que foi dada a Mary & Max. O vendedor concordou com a gente e disse que o filme não era mesmo para estar na prateleira de comédia, mas a Fox precisa seguir a classificação dada por críticos especializados. Sendo assim, nada poderia fazer a respeito. 

sábado, 16 de junho de 2012

Dos abraços


Abraços! Apertados. Sufocantes. Contidos. Extravagantes. Afetuosos. Protetores. Acolhedores.


Com silêncio. Com gritos. Com giros ou balanços. Rosto a rosto. Rosto no peito. Com peito aberto. Com carinho. Com desejo. Paixão. O início.


Com todos os braços. Ou só com dois. Sincronizados. Desajeitados. Sutis. Exagerados. Sozinhos. Duplos. Coletivos. Desconfortáveis. Fofinhos. 


Abraços! De desdém, falsidade. Por educação, conveniência. Sem vontade, intimidade. Por pena. Ironia. Maldade.


Abraços! Dos sinceros. De amizade. De amor. De mãe e de pai. De alegria. Euforia. Surpresa. Parabéns.


De tristeza. De lamento. De saudade. De consolo. Refúgio. Esconderijo. Despedida. Reencontro. Paz.


Abraços! Com tapa nas costas. Com cafuné. Com aperto na cintura quebrando as costelas. Batendo as orelhas. Quebrando brincos. Puxando o cabelo. Amassando a roupa. Desfazendo o penteado. Cheirando a cabeça ou o cangote. Deitando no ombro.


Abraços! Em pessoas. Em árvores. Em travesseiros. Segurando roupas, bolsas, discos, livros. Presentes.


Abraços! De tudo. De todos. Pra sempre. E só. Nada mais!

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Pré-CLIC discute as novas possibilidades no audiovisual


Na próxima sexta-feira, dia 15, a organização do Culturas, Linguagens e Interfaces Contemporâneas (CLIC 2012) promove mais um pré-evento. Dessa vez, o tema abordado será “Novas possibilidades no audiovisual em Belém do Pará”, com os convidados Renato Nogueira e Joice Santos. O 4º Pré-CLIC será no Cine Olympia, às 15h, com entrada franca.

Nos últimos anos, com o surgimento de novos e diversos suportes tecnológicos, mais portáteis e mais baratos, a produção audiovisual em Belém está cada vez mais expressiva, com um maior número de iniciativas como prêmios, cursos, editais de incentivo, mostras e festivais, a exemplo do recém-criado Festival Universitário de Criação Audiovisual (Festival Fusca), promovido pela faculdade Estácio FAP, e o já consolidado Festival Osga de Vídeos Universitários, coordenado pelo professor Renato Nogueira, da Unama.

Atento a essas questões, o CLIC 2012 convida a todos para a mesa ”Novas possibilidades no audiovisual em Belém do Pará”. Será uma oportunidade de conhecer e debater mais sobre o assunto com os convidados e também com os participantes.
CONVIDADOS

O 4º Pré-CLIC contará com a participação de Renato Nogueira, graduado em Comunicação Social pela Universidade da Amazônia e especialista pelo Centro de Pós Graduação. Atualmente, Renato é professor da Universidade da Amazônia e da Escola Superior da Amazônia e organizador do Festival Osga de Vídeos Universitários

A outra convidada para esta mesa é Joice Santos, bacharel em Comunicação Social (Jornalismo) pela Universidade Federal do Pará, especialista em Comunicação Cientifica e Tecnológica pela Universidade Metodista de São Paulo e mestra em Comunicação e Culturas Contemporâneas pela Universidade Federal da Bahia. Atualmente, Joice é membro da Diretoria da Associação Brasileira de Jornalismo Científico - ABJC e coordena o LabCom Móvel - Estudos e Práticas de Comunicação Pública da Ciência na Amazônia, projeto do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG). O projeto apresenta webséries, como a "Naturalistas do século XXI", gravadas com celulares, câmeras digitais, notebook, tablet e mp4s, mostrando que, por um baixo custo e conhecimentos “básicos” sobre produção e edição, é possível utilizar aparatos tecnológicos comuns ao cotidiano e produzir conteúdo sobre ciência.

Já a mediação da mesa ficará por conta de Thyago Pina, graduando em Comunicação Social (Publicidade e Propaganda) na Universidade da Amazônia e em Design na Universidade Estadual do Pará. Thyago atua na área de design gráfico e publicidade como profissional autônomo.

Além da mesa de debate, a organização do CLIC 2012 aproveitará a oportunidade para o lançamento oficial do cartaz do CLIC em Cena, que ocorrerá de 8 a 10 de agosto, também no Cinema Olympia. Como as vagas são limitadas e custam R$10,00 (preço único), quem quiser poderá se inscrever logo no evento. Haverá ainda sorteios de brindes e de inscrições gratuitas para o evento.

SERVIÇO
Pré-CLIC com o tema “Novas possibilidades no audiovisual em Belém do Pará”. Dia 15, às 15h, no Cine Olympia. O evento tem entrada franca e os participantes terão direito a certificado. 


Mais informações você confere aqui.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Vida de Jornalete (Paródia de Vida de Empreguete)


Todo dia acordo cedo, moro longe do emprego
Quando chego da minha pauta, quero ir pro bar
Tá sempre cheia a Redação, eu faço texto e ligação
E o editor quer ver defeito até onde não há

Queria editor aqui no meu lugar
Eu ia rir de me acabar
Queria editor aqui no meu lugar
Com cinco pautas pra entregar

Minha colega quis mostrar serviço pro editor dela
Ficou só com a metade da matéria
A repórter jovenzinha, gostosinha e empolgada
Só sabe reclamar, nunca faz nada

Queria editor aqui no meu lugar
Eu ia rir de me acabar
Queria editor aqui no meu lugar
Com pauta REC pra entregar

Refrão

Só porque sou jornalete eu pego às 7
Fim de semana eu calço tênis pra ir trabalhar
Um dia eu ganho a mega sena, viro socialite
E o colunista social vai ter que me aturar


PS: Agradecimentos especiais para Carla Azevedo e Kezia Carvalho que deram a ideia da paródia. 

sábado, 21 de abril de 2012

“Eu sinto como se a gente nunca tivesse terminado”

Assim, Marisa Brito resumiu um dos momentos mais aguardados da música paraense: a volta, ainda que só por uma noite, da saudosa A Euterpia! O local não poderia ser mais adequado: o palco do Café com Arte, que já protagonizou shows inesquecíveis da banda em meados dos anos 2000. E o combo A Euterpia + Café com Arte tem um significado especial pra mim: foi por causa da banda, pra ouvir ao vivo as músicas que eu já curtia pela rádio, que comecei a frequentar o Café e a mudar, definitivamente (amém!), minha vida social - e musical. Parei de ir às "boatchys", aos pagodes, aos forrós e sertanejos (meldeos!). Eu vivia "drogada" e hoje estou curada. Aleluia, irmãos! Mas enfim, vamos voltar ao show.

O público... (gente, que público!). Não lembro de ter visto algo assim na vida. Lembrei logo do filme O Homem do Futuro em que a máquina do tempo transporta todo mundo para a mesma festa e tudo continua ali, do mesmo jeito. A diferença é que ontem, mesmo com tudo parecendo igual como era antes, todos já estavam cinco anos mais velhos, pelo menos. Mas a paixão por Euterpia continua a mesma. Não há dúvidas! Todos ainda sabiam cantar cada verso de cada música. Pularam, gritaram, se emocionaram. Já eu mal conseguia me mexer, por incrível que pareça. Influência do cansaço, claro – afinal, show do Felipe Cordeiro uma hora antes é pra destruir qualquer pé. Mas a verdade é que eu fiquei hipnotizada. Ver a Marisa com a mesma presença de palco (com certeza, uma das melhores que já vi) fez um filme enorme passar pela minha cabeça durante o show. Confesso que às vezes senti até vontade de chorar. Reviver e relembrar meus 17, 18 anos e tudo de mais lindo que aquele tempo me trouxe, foi uma experiência incrível. Acho que quando inventarem o teletransporte vai ser mais ou menos assim.

Deixando de lado Arrigo Barnabé e Veneza, que são clássicas e, óbvio, deixaram todos enlouquecidos no Café, o momento mais surreal pra mim foi a Marisa cantando Lusco Fusco. Aí foi nostalgia injetada na veia! Fechei os olhos e sumi dali. Sei lá em que mundo fui parar, só sei que foi assim: lindo!

O show foi curto, algumas músicas ficaram de fora porque a banda não estava completa e quase não tiveram tempo de ensaiar e blábláblá. Foi mesmo uma participação especial, como dizia no cartaz da festa. Mas acredito que todos tiveram a mesma sensação que a Marisa: a banda parecia nunca ter terminado. Parecia nunca ter parado de tocar o repertório consagrado. Os anos pareciam não ter passado. E a Marisa (aquela fofa!) estava tão à vontade quanto antes. Saudade tem dessas coisas.

Impossível não pensar nas clássicas perguntas “Por que acabou? Será que nunca mais volta?”, mas, como a própria Marisa disse, é bom saber que estão todos bem, felizes, seguindo outros caminhos e realizando outros sonhos. Só tenho a agradecer à Euterpia, à Marisa e ao Café por terem atendido ao meu pedido – que fiz por várias vezes, durante todos esses anos, bem baixinho, quase como uma prece. Muito obrigada, de verdade! Foi inesquecível! E, claro, voltarei a pedir por outros momentos como o de ontem. Vai que...

sexta-feira, 2 de março de 2012

A Vida da Gente – Mais Um Capítulo da Nova Teledramaturgia Brasileira

O que dizer sobre A Vida da Gente? Uma novela que mexeu tanto comigo, mas tanto, que nem sei por onde começar. Talvez seja melhor começar pelo óbvio, pelo começo. Então vamos lá!

Eu tive a imensa sorte de acompanhar a novela desde o início, desde os primeiros capítulos, tentando recompensar o fato de não ter conseguido assistir à Cordel Encantado – que antecedeu A Vida da Gente e recebeu rasgados elogios dos telespectadores, incluindo minha irmã e minha mãe. No início, o que mais me chamou atenção em A Vida da Gente foi o fato de que os personagens pareciam ser reais, tirados da própria realidade. A relação de amor, cumplicidade, companheirismo, carinho e respeito entre as personagens irmãs Ana (Fernanda Vasconcellos) e Manu (Marjorie Estiano) parecia ter sido inspirada na minha relação com a minha irmã. Como assistíamos juntas, por diversas vezes nos emocionamos e choramos ao ver as lindas cenas entre a Ana e a Manu, porque lembrávamos da gente, da relação de irmãs que construímos desde a infância e que pouquíssimas vezes eu vi em outras famílias.

Mas não eram só as irmãs da trama que pareciam ter sido tiradas da realidade. Em uma conversa de bar, eu e minhas amigas chegamos à conclusão de que conhecemos na vida real pessoas que faziam o tipo dos personagens da novela. A Eva (Ana Beatriz Nogueira), por exemplo, é cruelmente real. Claro que na novela há um certo exagero nos personagens, porque enfim, é um telenovela. Mas muitas vezes me flagrei rindo ou até mesmo chorando ao ver cenas da Eva porque algumas, caramba, eram parecidas demais com cenas que eu já vi ao vivo e a cores, infelizmente! A verdade é que existem, sim, mães e pais como a Eva, quase ou no mesmo nível de loucura. A Vitória (Gisele Fróes), mãe da Sofia e da Bárbara na novela, também é outra que não é surreal, impossível. E o que dizer da Cris (Regiane Alves), mãe do Tiago? Do tipo dela nós encontramos muito por aí, geralmente em baladas de domingo a domingo e geralmente bem mais novas do que deveriam ser.

A Vida da Gente foi uma novela centrada nas mulheres, em que as elas eram o centro dos acontecimentos, as protagonistas das mais variadas histórias familiares exploradas na novela. E foi uma trama essencialmente familiar, justificando assim o título – e também a abertura. Com núcleos pequenos e interligados, A Vida da Gente mostrou exemplos muito concretos das novas famílias contemporâneas, com a figura do padrasto/enteado, da avó que atua como mãe, dos pais adotivos, dos irmãos de criação, dos pais solteiros... E provavelmente por isso, também, tenha feito tanto sucesso. Porque era impossível não ter o mínimo de identificação com algum personagem, mesmo que a identificação fosse do outro e não de si mesmo. Nem as novelas escritas por Manoel Carlos – famoso por fazer tramas centradas na realidade – conseguiu ser tão pé no chão quanto essa, explorando situações cotidianas de forma real, sem superestima, sem enrolação, sem excessos de personagens e sem a insuportável figura da Helena.

Fora que boa parte dos atores escolhidos para os personagens trabalhou tão bem, tão bem, que chegou a me surpreender. A Marjorie Estiano, por exemplo, conseguiu dar vida própria à Manu. Era quase impossível não chorar quando a Manu chorava e não rir quando a Manu ria. Marjorie e Fernanda (que melhorou bastante como atriz, por incrível que pareça) protagonizaram algumas das cenas mais fortes, emocionantes, tocantes e inesquecíveis da teledramaturgia. A cena do acidente, do choque emocional, da briga – que rendeu mais de 8 minutos de cena que, de tão emocionantes, a gente nem sentiu o tempo passar -, da reconciliação... cenas incríveis que dificilmente serão esquecidas por quem as assistiu. Outro destaque de atuação vai para a pequena Júlia (Jesuela Moro) que, no mínimo, é uma menina muito obediente, porque ela fez direitinho tudo o que era pra fazer. Foi encantadora e sapeca quando tinha que ser, chata e mimada quando precisou, alegre e sorridente também, e até no momento de ficar doente ela conseguiu impressionar. Ela fez tudo parecer natural, real e fez todo mundo querer ter uma filha que nem ela. E a Eva... essa merecia prêmio de melhor atriz coadjuvante, porque olha... arrasou!

Há algum tempo, a Globo tem usado o horário das 18h para a renovação: desde a escolha de novos dramaturgos, passando pelo teste de novas câmeras e novos ângulos, até chegar ao figurino. Deu certo com Cordel Encantado e deu certo com A Vida da Gente. Em uma discussão em sala de aula, na disciplina de Introdução ao Telejornalismo, cheguei a comentar sobre essas mudanças e a professora afirmou que, possivelmente, isso é reflexo da chegada da TV Digital à vida de mais e mais brasileiros. E o horário das 18h está servindo de incubadora para novos projetos em teledramaturgia. É bem possível que os novos dramaturgos utilizados para esse horário sejam, em breve, os novos dramaturgos do horário das 21h. Não é de hoje que este horário tem andado deficiente, com falhas graves nos textos e nas execuções, tramas fracas e apelativas demais, a exemplo da atual novela das 9, Fina Estampa, escrita por Aguinaldo Silva. O próprio Manoel Carlos talvez esteja precisando se aposentar, porque tem errado demais ultimamente. As novelas da 9 continuam tendo boa audiência porque são novelas das 9 e só. E mesmo assim já existe um diagnóstico de crise no horário há algum tempo.

Como disse o Tiago Paolelli, em um comentário no Twitter, A Vida da Gente tinha um texto muito bom e uma fotografia incrível, pouco vista em outros horários de outras novelas. Não vai demorar muito para que Lícia Manzo, autora de A Vida da Gente, seja usada em horário nobre. Inclusive, eu acho, sinceramente, que a novela deveria ser reprisada no horário das 21h para que mais e mais pessoas tivessem a oportunidade de ver uma boa telenovela, um exemplo de como as outras devem ser a partir de agora. E não é à toa, não é por simples fanatismo por telenovelas bem trabalhadas, que eu quero – e provavelmente vou – utilizar A Vida da Gente como estudo de caso para o meu TCC. Boa sorte pra mim e boa sorte para Amor, Eterno Amor, que já começa na próxima segunda com uma responsabilidade enorme pela frente: a de manter o padrão altíssimo das duas últimas telenovelas das 6!

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

O "Jornalismo" em Santarém

Como muitos já sabem, estou participando de uma pesquisa de Iniciação Científica com foco nas regiões do Baixo Amazonas e Carajás e, basicamente, é necessário que eu conheça um pouco mais sobre os produtos midiáticos dessas regiões, incluindo, por exemplo, os jornais impressos. O meu colega de pesquisa, Adrielson Acácio, foi a Santarém no ano passado e gentilmente trouxe três dos principais jornais que circulam pela região do Baixo Amazonas. Um deles é o jornal O Impacto que traz na capa a seguinte descrição: “Polêmico, Atualizado, Audacioso, Corajoso e Verdadeiro”. O jornal custa R$ 2,00 (sim, dois reais!), possui 32 páginas e circula em Belém, Santarém, Alenquer, Aveiro, Juruti, Itaituba, Novo Progresso, Oriximiná, Óbidos, Rurópolis, Belterra Altamira, Placas, Curuá, Uruará, Porto de Moz, Terra Santa e Monte Alegre.

Depois de ler algumas matérias, fiquei muito impactada (já que o jornal se chama O Impacto, né, faz sentido) de ver o quanto os textos são mal escritos, mal editados e de uma chapa branca que eles nem se esforçam em disfarçar. Até então, eu achava que boa parte das matérias desses jornais eram escritas e editadas por jornalistas – formados ou não. Mas depois que eu li o que eu li, retiro as minhas antigas suposições. Se um dia eu for professora do curso de Jornalismo, vou usar essas matérias como exemplo de “como NÃO fazer”.

Engraçado como apenas cinco parágrafos foram capazes de me fazer relembrar de todos os conceitos e técnicas de Jornalismo que eu aprendi em três anos de faculdade (até agora) e que definitivamente não foram aplicados nesta matéria transcrita abaixo:

Aveiro

SECRETÁRIO MUNICIPAL DE ADMNISTRAÇÃO VISITA VILA DE FORDLÂNDIA

O prefeito Ranilson do Prado desde o início do seu governo tem dado atenção especial a vários setores da administração pública que estavam no esquecimento pelos governos passados, como saúde, educação e infraestrutura. Tanto é, que vários logradouros públicos já foram recuperados, bem como outros foram construídos, como é o caso da Praça da Vila de Fordlândia que está sendo construída com uma arquitetura moderna, feita pela artista plástico Apolinário.

Na última segunda Feira (10), pela parte da manhã, o Secretário de Administração do município de Aveiro, André Paxiuba, esteve pessoalmente a Vila de Fordlândia, acompanhando de perto os trabalhos da Praça daquela Vila que está sendo construída pela Prefeitura.

A obra está sendo feita com recursos da própria prefeitura de Aveiro. O secretário André Paxiuba conversou com o responsável pela obra, o artista plástico Apolinário, que na ocasião, informou que a expectativa é de que a praça seja inaugurada no dia 25 deste mês, quando acontece a tradicional festa do Balão Vermelho em Fordlândia.

A respeito da recuperação do antigo galpão construído pelos Americanos, que fica localizado no trapiche da cidade, André Paxiuba disse que a Prefeitura já comprou 2.482 pedaços de vidros, que serão colocados nas janelas do Galpão. Ele acrescentou que por serem vidros bem temperados e especiais, o trabalho está sendo mais demorado, porém, vai ser executado pelo poder público municipal.

Conversamos com o artista Apolinário, que falou de sua alegria em trabalhar com o atual Secretário, que em sua opinião é uma pessoa educada e atenciosa. André Paxiuba é tido até por parte da oposição como uma pessoa humilde e de bom coração, sendo que como Secretário, está desempenhando um papel fundamental no governo de Ranilson Prado.

P.S: A matéria foi transcrita exatamente da forma como foi publicada no jornal, com todos os erros, discordâncias e puxa-saquismos. A impressão que dá é a de que a função de Editor é inexistente (e a de repórter também, diga-se).