segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Coisas que a gente só entende depois que se torna mãe (ou irmã)... de um cachorro!


Quando criança sempre quis ter um cachorro, mas minha mãe não deixava. Dizia que dava trabalho, gastava dinheiro e, no final das contas, só ela ficaria responsável por cuidar do animal. Dizia também que nossa casa – um apartamento com menos de 100m² - não teria espaço para um cachorro. Muito menos para a raça que eu gostaria de ter: um labrador.

Na adolescência, finalmente dei razão à minha mãe e deixei de lado a vontade de ter um cãozinho correndo e latindo pela casa. Passei a curtir os cachorros dos meus vizinhos e amigos, mas sempre com um distanciamento de quem nunca teve um cão em casa. Não entendia, por exemplo, o amor exagerado que meus amigos donos tinham pelos seus respectivos animais. Eles diziam que era bem parecido com o amor que pais têm pelos filhos humanos. Eu pensava “mas quando, não existe isso!”.

Mas, como diria Joseph Climber, a vida é uma caixinha de surpresas. Em julho do ano passado mamãe veio me acordar segurando nas mãos um cãozinho preto tão pequeno quanto indefeso. Eu, acostumada a receber visitas de cachorros vizinhos, logo perguntei:

            - De quem é, mãe?
            - É nosso!
            - O QUE?
            - É nosso e é uma fêmea. O nome dela é Penha, em homenagem às Empreguetes. Peguei ela na feira de adoções da Praça da República.

Pulei da cama, acordei de vez na mesma hora. Não quis acreditar no que eu estava vendo e ouvindo. Mamãe, claro, só poderia estar brincando. Segurei a Penha no colo e, pronto, me apaixonei perdidamente. Se era nossa ou não, não sabia, não tinha certeza. Mas estava disposta a garantir que a Penha não iria mais embora da minha casa. A cara dela de Simbá quando é levantado na Pedra do Rei era linda demais pra não ser mais olhada e admirada.



Mas eis que mamãe, a danada Laura Rosa, estava mesmo falando sério. A cachorra era nossa. E agora? Ficamos dias pensando se daria mesmo para ela ficar com a gente, muitas perguntas e nenhuma resposta. “Como vamos manter num apartamento uma cachorra que é o cruzamento de vira-lata com labrador?”, “Não temos como comprar a ração dela!”, “E se ela destruir o sofá, os móveis, derrubar e quebrar as coisas, o que vamos fazer?”, “E quando ela tiver que ficar sozinha?”. “Ah! Não dá pra ela ficar aqui...”, pensou meu padrasto e minha irmã. “A gente dá um jeito”, pensou minha mãe e eu. “A gente pode ficar umas semanas com ela e, se não der certo, damos a Penha pra alguém”. Que ideia ridícula a minha! “A gente vai se apegar a ela e ela à gente, se for pra ficar, vai ter que ficar de vez”, ponderou meu padrasto.

Em meio a tantas dúvidas, a Penha acabou ficando e conquistou a casa inteira. Quando a gente se deu conta, não tinha mais jeito. Ela já fazia parte da família. A partir daí comecei a recuperar minhas memórias de infância. A primeira, que me vem à cabeça até hoje quando chego em casa, é a da minha amiga Mariana, que mora no mesmo prédio que eu e que conheço desde a infância. Mariana sempre teve cachorro. Na infância, a casa dela era alegrada pela poodle Princesa, que faleceu há alguns anos. Eu gostava muito da Princesa, mas não entendia um bocado de coisas, não entendia a devoção, amor e extrema proteção que a Mariana e o irmão davam a ela. Lembro que julguei como exagerada a reação que a minha amiga teve quando a Princesa morreu: ficou o dia inteiro em casa, não quis ir brincar e chorou muito. Eu fiquei triste também, claro. Mas depois pensava “é só um cachorro!”. Ah! Quanta ingenuidade...

Também lembro da minha prima – e da família dela – que ficaram em desespero depois que o Luck (era esse o nome dele? Acho que sim...) fugiu da casa deles em Salinas. Houve uma enorme comoção, cartazes foram distribuídos (se eu bem me lembro), procuraram pelas redondezas e tudo o mais, mas o cachorro nunca foi encontrado. Eu também gostava muito do Luck, fiquei triste por ele ter fugido, mas de novo pensava “é só um cachorro. Logo, logo compram outro e fica tudo bem”. Mariana, Mariana... quanta asneira!

Foi já fase adulta que fui entender o espaço (físico e sentimental) que um animal de estimação pode ocupar na casa e na vida dos donos. Mais especificamente, foi depois de ler o livro Marley & Eu (é! Eu leio best-sellers de vez em quando, ora!) que eu desenvolvi um apego maior por cães. Achava o Marley engraçado, ria muito das histórias dele. Principalmente as que tinham a base “Marley pulou em fulano”. Pensava “quero ter um cão que nem o Marley, mas sem ser tão atentado e eufórico quanto ele”. Foi com o Marley que eu percebi que finalmente tinha maturidade para ter um cão – apesar de não dispor de tanto tempo assim.

Aí veio a Penha com seus olhos um pouco azuis, com ar de pedinte e cara de santa. Aí veio a Penha querendo brincar o tempo inteiro de mordidinha, querendo pular o tempo inteiro em cima da gente, incomodando as visitas, destruindo chinelas e almofadas, roubando meias, lambendo a comida dos outros, acordando a gente com as patas, montando estratégias para fugir de mim na hora do banho... Aí veio a Penha causando transtornos à família ao mesmo tempo em que foi se tornando o centro e a maior alegria da casa.

Toda a ideia desse post surgiu quando eu fui levar a Penha para passear na rua e vi uma pessoa suspeita parada na calçada. Eu não tinha nada comigo: dinheiro, celular, jóia... nada disso. A única coisa de valor com a qual eu havia saído de casa era a Penha. Fiquei imaginando mil coisas absurdas, mas que me fizeram refletir sobre o amor que construí pela minha “cã”. Fiquei pensando “e se um bandido quisesse me assaltar, descobrisse que eu não tenho dinheiro ou celular e decidisse fazer mal à Penha? E se ele quisesse machucá-la, mata-la ou algo tipo?”. Fiquei logo angustiada ao pensar nisso e me dei conta, pela primeira vez em meses, o quão disposta eu estaria em me sacrificar para salvar a vida da Penha.

Quando a Penha veio morar aqui em casa, lembro de um amigo, o Victor, relatando o quanto a família teve que gastar para salvar a vida do cachorro que mora na casa dele, que a família precisou tirar dinheiro de onde não tinha para não deixar o cão morrer. No fim, o Victor disse pra mim “te prepara! Ter cachorro em casa é dar a vida por ele, se necessário. Vocês vão precisar se sacrificar muito pela Penha, caso ela precisa, e vocês não vão medir esforços pra isso”. Mais uma vez pensei “que exagero!”, mas hoje, depois de sete meses de Penha na minha vida, vejo que não é exagero nenhum.

Às vezes me flagro contando mil histórias sobre a Penha, empolgada, com sorriso no rosto e achando o assunto mais interessante do mundo. Às vezes me flagro até admirando as marcas de arranhões e mordidas que a Penha deixa em mim durante as brincadeiras. Acho todas lindas, gosto de mostrar aos amigos, conto rindo como a Penha fez isso em mim. Até esqueço de dói, arde e incomoda. E daí? Ela brinca assim mesmo, é uma criança estabanada que nem a irmã (no caso, eu!).

Quando viajei em setembro para Fortaleza, a primeira saudade que tive foi da Penha. Quando viajei em dezembro para o Rio de Janeiro, a primeira saudade que tive também foi da Penha (que mamãe não leia isso e, se ler, que me perdoe). Quase choro de saudade quando mamãe e Camila contaram que a Penha tinha menstruado, que agora era uma mocinha. Mamãe me mandou uma foto da Penha vestindo calcinha e eu fiquei pensando “Meu Deus! Eu não to do lado dela num momento como esse, não to acompanhando de perto o crescimento da minha cachorrinha”. Sofri. E fiquei buscando notícias e querendo ver fotos dela diariamente. Quando voltei, comprei uma calcinha linda e fofa no Pet Shop pra Penha poder usar. Uma lindeza só!

A Penha foi incluída até nas angústias sobre o meu futuro. Daqui há uns meses (ou daqui há uns anos) precisarei sair de Belém para estudar e, agora, fico pensando “mas e a Penha? E se acontecer alguma coisa com ela enquanto eu estiver fora?”. É horrível pensar também que eu posso não ter mais como acompanhar todas as fases de vida dela. Não sei mais como é chegar em casa e não ter a Penha pra me receber com uma felicidade tão imensa e tão sincera que jamais vi na vida. Às vezes, já saio do elevador pensando “de onde a Penha vai vir correndo dessa vez pra pular em cima de mim?”. Não sei mais também como é sentar à mesa para comer e não sentir a Penha deitando delicadamente entre os meus pés e me dando pena de me levantar para qualquer coisa que seja.

A verdade, meus caros, é que cachorros transformam a vida da gente por completo. Mudam a rotina e os costumes da casa, as relações e os tratamentos, nos dão responsabilidades ainda maiores, são incluídos nos planejamentos e nas histórias da família. E quem disse que a gente reclama disso? Nunca! Brigamos com a Penha quando ela apronta, nos estressamos muitas vezes, é claro. Mas nunca, nunca nos arrependemos de tê-la dentro de casa, nunca deixamos de demonstrar amor por ela em qualquer momento que seja. Rimos até de quando ela tenta nos expulsar do sofá ou da cama para poder deitar. Abusada! E ela fica ainda mais linda quando escuta a família reunida em algum canto da casa e quer participar da conversa a todo custo. Afinal, filha e irmã caçula é assim, enxerida (eu que o diga!).

A verdade, meus caros, é que só quem tem ou já teve cachorro conseguirá entender minhas palavras, muitas escritas com lágrimas só pensar em todo o amor que aprendi a ter pela Penha.

Te amo, cã!


PS: o post ficou muito grande, deu preguiça de revisar. perdoem os erros, caso haja algum. Obrigada! :)