segunda-feira, 25 de junho de 2012

Mary & Max: uma lição sobre autismo e amizade


Em uma conversa sobre autismo, uma grande amiga minha, que hoje é psicóloga, mostrou o trailer de um filme feito de massinha e praticamente sem cor. Achei estranho, mas fiquei interessada pelo roteiro (baseado em fatos reais) e pelo trailer – com uma trilha sonora fofinha. Minha amiga disse que o filme poderia ajudar no trabalho e na formação acadêmica da minha irmã, estudante de Psicologia. Depois de um tempo, quando tive mais paciência e disposição, resolvi arriscar e loquei o filme (lá na Fox Vídeo) para assistir.

Na locadora, o filme pode ser encontrado na prateleira de “comédia”. Com essa classificação pensei: “vou até fazer pipoca, o filme parece ser divertido”. Mas aí veio a surpresa que até hoje não sei dizer se foi boa ou ruim. A comédia era, na verdade, um drama (tragicômico talvez?). Imaginem vocês: um drama feito de massinha, todo fofo (apesar da quase ausência de cores), com jeitinho de inocente e inofensivo.

Mary & Max (2009), escrito e dirigido por Adam Elliot é, provavelmente, um dos melhores e mais surpreendentes filmes que já vi. É claro que o fato da história ser real contribui bastante para essa minha conceituação. Mas não é só isso. A história é bem contada, de forma leve (e até divertida – daí a justificativa de ser “comédia”), tratando de assuntos tão delicados com uma linguagem acessível, próxima da nossa realidade, do nosso cotidiano.

O ENREDO
Vamos então ao enredo. Mary é uma criança australiana de 8 anos, filha de uma mãe alcoólatra e displicente. Portadora de um “nível mais leve” (se é que eu posso chamar assim) de autismo, Mary não tem amigos, não tem com quem conversar, com quem trocar experiências. Certo dia, vasculhando uma lista telefônica, decide escolher aleatoriamente uma pessoa para mandar uma carta, tentar uma amizade, uma forma de se comunicar. E o nome escolhido para uma possível amizade é Max.

Max é um nova-iorquino com mais de 40 anos que mora em apartamento quase sem móveis, tendo como companhia um aquário onde vive apenas um peixe. Portador de um “nível mais grave” de autismo, Max não tem família e também não tem amigos. É obeso, judeu e virgem. Quando chega a carta de Mary – uma completa estranha que mora do outro lado do mundo - reacende em Max a esperança de ter enfim um amigo, alguém com quem ele possa conversar.

Mary, como toda criança curiosa, vê em Max uma oportunidade de esclarecer dúvidas banais e corriqueiras, dessas que as crianças costumam ter, mas nem sempre tem para quem perguntar. Coisas como “de onde vêm os bebês?”, “o que é camisinha?”, “o que é o amor?”, entre outras perguntas inocentes, típicas da idade dela. No entanto, esses questionamentos acabam por despertar em Max lembranças, traumas, perguntas nunca respondidas que voltam a perturbá-lo carta a carta. Max acaba respondendo às dúvidas de Mary com a mesma inocência com que ela perguntou. Em uma das cartas, Mary pede conselho a Max sobre como ela deve reagir quando os colegas da escola a maltratarem. Max sofre então uma crise de autismo ao relembrar de todas as vezes em que apanhou na escola, quando criança, por ser autista, obeso e judeu. Pra mim, essa é uma das cenas mais marcantes do filme.

A troca de cartas entre os dois dura anos, mais de uma década. Algumas delas são acompanhadas de fotos, barras de chocolate, latas de leite condensado, bonecos colecionáveis, entre outros anexos, conforme um vai conhecendo o outro, sabendo o que gosta, o que não gosta e o que gostaria de conhecer. Sem nunca se encontrarem, Mary e Max criam um laço de amizade que para nós pode parecer bobo, sem muita importância, mas para eles é o único laço construído durante anos de vida, o único meio de comunicação com o mundo. Passados alguns anos, depois de casar e enfrentar uma separação, Mary usa o caso clínico do amigo Max como objeto de pesquisa acadêmica que logo é transformada em livro. O livro, que talvez seja uma maneira de Mary tentar entender a si mesma, acaba criando uma série de situações que levam Mary a Nova York para finalmente encontrar Max. Mas o resultado desse encontro, é claro, não vou contar. É um spoiler cruel demais, não me autorizo.

Uma das coisas que mais chama a atenção no filme são as cores (ou ausência delas). O universo de Mary é todo retratado em tons de sépia, combinando com o ambiente rural e interiorano do lugar onde ela mora, além de trazer uma serenidade e inocência que fazem parte da personalidade da personagem. Já o universo de Max, em uma das maiores cidades do mundo com todos os problemas que tanta grandiosidade oferece, é todo em preto e branco, meio sem graça, sem perspectivas e sem esperanças. Nada mais adequado para um homem com mais de 40 anos que nunca namorou, nunca teve amigos nem filhos nem dinheiro.


LEMBRANÇAS
Se eu fosse professora de crianças, certamente usaria Mary & Max como didática com os meus alunos. Por trás de todo o valor que pode haver em uma amizade, com todos os seus altos e baixos, o filme trabalha a temática do autismo de uma forma tão delicada quanto à própria doença – se é que eu posso chamar assim.

A história dos dois me fez lembrar dos meus tempos de colégio. Na minha sala estudava um menino que, na época, chamávamos de estranho/ pomba lesa/ doido, essas coisas maldosas que as crianças fazem até hoje com os colegas. Ele, tal qual Max ou Mary, não conseguia criar laços de amizade com ninguém da escola. Volta e meia, sofria umas crises estranhas em que tapava os ouvidos, balançava o corpo pra frente e pra trás e fazia ruídos com a boca. Nem preciso falar que isso era motivo suficiente para que todos na sala ficassem rindo, ridicularizando o menino. Com o tempo, e com a insistência dos professores e coordenadores, nós fomos aprendendo a conviver com ele, buscando maior aproximação e diminuição do bullying.

Anos depois, quando eu já estava na faculdade, lembrei desse menino e fiquei pensando o que teria acontecido com ele (pergunta que me faço até hoje). Repassando na memória os acontecimentos em sala de aula, finalmente me dei conta de que meu colega era autista. Mais tarde, percebi algo bem pior: de que os pais e os professores nunca souberam como lidar com a situação. Nunca disseram aos alunos por que o menino era assim, nunca nos explicaram o que era autismo e por que precisávamos constituir uma amizade com o garoto. Não sei se por resistência dos pais ou se por incompetência dos professores. Só sei que isso com certeza prejudicou o menino e atrasou o amadurecimento dos alunos como seres humanos.

Com Mary & Max eu sinceramente espero que esse tipo de situação, esse despreparo das escolas e até dos pais em lidar com o autismo seja diminuído e diluído aos poucos.


Apesar de ter sido classificado pela crítica especializada como “comédia”, o filme me fez chorar (tá, tem alguns momentos que são engraçados, mas é aquele engraçado do tipo “rir pra não chorar”, sabe?), trouxe lembranças um tanto quanto amargas (além dessas das quais falei) e as boas também. Sem dúvida, é um daqueles filmes que a gente coloca no cantinho especial da prateleira cinéfila.

OBS: Quando fomos devolver o filme na Fox Vídeo, reclamamos ao vendedor sobre a classificação de gênero que foi dada a Mary & Max. O vendedor concordou com a gente e disse que o filme não era mesmo para estar na prateleira de comédia, mas a Fox precisa seguir a classificação dada por críticos especializados. Sendo assim, nada poderia fazer a respeito. 

sábado, 16 de junho de 2012

Dos abraços


Abraços! Apertados. Sufocantes. Contidos. Extravagantes. Afetuosos. Protetores. Acolhedores.


Com silêncio. Com gritos. Com giros ou balanços. Rosto a rosto. Rosto no peito. Com peito aberto. Com carinho. Com desejo. Paixão. O início.


Com todos os braços. Ou só com dois. Sincronizados. Desajeitados. Sutis. Exagerados. Sozinhos. Duplos. Coletivos. Desconfortáveis. Fofinhos. 


Abraços! De desdém, falsidade. Por educação, conveniência. Sem vontade, intimidade. Por pena. Ironia. Maldade.


Abraços! Dos sinceros. De amizade. De amor. De mãe e de pai. De alegria. Euforia. Surpresa. Parabéns.


De tristeza. De lamento. De saudade. De consolo. Refúgio. Esconderijo. Despedida. Reencontro. Paz.


Abraços! Com tapa nas costas. Com cafuné. Com aperto na cintura quebrando as costelas. Batendo as orelhas. Quebrando brincos. Puxando o cabelo. Amassando a roupa. Desfazendo o penteado. Cheirando a cabeça ou o cangote. Deitando no ombro.


Abraços! Em pessoas. Em árvores. Em travesseiros. Segurando roupas, bolsas, discos, livros. Presentes.


Abraços! De tudo. De todos. Pra sempre. E só. Nada mais!

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Pré-CLIC discute as novas possibilidades no audiovisual


Na próxima sexta-feira, dia 15, a organização do Culturas, Linguagens e Interfaces Contemporâneas (CLIC 2012) promove mais um pré-evento. Dessa vez, o tema abordado será “Novas possibilidades no audiovisual em Belém do Pará”, com os convidados Renato Nogueira e Joice Santos. O 4º Pré-CLIC será no Cine Olympia, às 15h, com entrada franca.

Nos últimos anos, com o surgimento de novos e diversos suportes tecnológicos, mais portáteis e mais baratos, a produção audiovisual em Belém está cada vez mais expressiva, com um maior número de iniciativas como prêmios, cursos, editais de incentivo, mostras e festivais, a exemplo do recém-criado Festival Universitário de Criação Audiovisual (Festival Fusca), promovido pela faculdade Estácio FAP, e o já consolidado Festival Osga de Vídeos Universitários, coordenado pelo professor Renato Nogueira, da Unama.

Atento a essas questões, o CLIC 2012 convida a todos para a mesa ”Novas possibilidades no audiovisual em Belém do Pará”. Será uma oportunidade de conhecer e debater mais sobre o assunto com os convidados e também com os participantes.
CONVIDADOS

O 4º Pré-CLIC contará com a participação de Renato Nogueira, graduado em Comunicação Social pela Universidade da Amazônia e especialista pelo Centro de Pós Graduação. Atualmente, Renato é professor da Universidade da Amazônia e da Escola Superior da Amazônia e organizador do Festival Osga de Vídeos Universitários

A outra convidada para esta mesa é Joice Santos, bacharel em Comunicação Social (Jornalismo) pela Universidade Federal do Pará, especialista em Comunicação Cientifica e Tecnológica pela Universidade Metodista de São Paulo e mestra em Comunicação e Culturas Contemporâneas pela Universidade Federal da Bahia. Atualmente, Joice é membro da Diretoria da Associação Brasileira de Jornalismo Científico - ABJC e coordena o LabCom Móvel - Estudos e Práticas de Comunicação Pública da Ciência na Amazônia, projeto do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG). O projeto apresenta webséries, como a "Naturalistas do século XXI", gravadas com celulares, câmeras digitais, notebook, tablet e mp4s, mostrando que, por um baixo custo e conhecimentos “básicos” sobre produção e edição, é possível utilizar aparatos tecnológicos comuns ao cotidiano e produzir conteúdo sobre ciência.

Já a mediação da mesa ficará por conta de Thyago Pina, graduando em Comunicação Social (Publicidade e Propaganda) na Universidade da Amazônia e em Design na Universidade Estadual do Pará. Thyago atua na área de design gráfico e publicidade como profissional autônomo.

Além da mesa de debate, a organização do CLIC 2012 aproveitará a oportunidade para o lançamento oficial do cartaz do CLIC em Cena, que ocorrerá de 8 a 10 de agosto, também no Cinema Olympia. Como as vagas são limitadas e custam R$10,00 (preço único), quem quiser poderá se inscrever logo no evento. Haverá ainda sorteios de brindes e de inscrições gratuitas para o evento.

SERVIÇO
Pré-CLIC com o tema “Novas possibilidades no audiovisual em Belém do Pará”. Dia 15, às 15h, no Cine Olympia. O evento tem entrada franca e os participantes terão direito a certificado. 


Mais informações você confere aqui.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Vida de Jornalete (Paródia de Vida de Empreguete)


Todo dia acordo cedo, moro longe do emprego
Quando chego da minha pauta, quero ir pro bar
Tá sempre cheia a Redação, eu faço texto e ligação
E o editor quer ver defeito até onde não há

Queria editor aqui no meu lugar
Eu ia rir de me acabar
Queria editor aqui no meu lugar
Com cinco pautas pra entregar

Minha colega quis mostrar serviço pro editor dela
Ficou só com a metade da matéria
A repórter jovenzinha, gostosinha e empolgada
Só sabe reclamar, nunca faz nada

Queria editor aqui no meu lugar
Eu ia rir de me acabar
Queria editor aqui no meu lugar
Com pauta REC pra entregar

Refrão

Só porque sou jornalete eu pego às 7
Fim de semana eu calço tênis pra ir trabalhar
Um dia eu ganho a mega sena, viro socialite
E o colunista social vai ter que me aturar


PS: Agradecimentos especiais para Carla Azevedo e Kezia Carvalho que deram a ideia da paródia. 

sábado, 21 de abril de 2012

“Eu sinto como se a gente nunca tivesse terminado”

Assim, Marisa Brito resumiu um dos momentos mais aguardados da música paraense: a volta, ainda que só por uma noite, da saudosa A Euterpia! O local não poderia ser mais adequado: o palco do Café com Arte, que já protagonizou shows inesquecíveis da banda em meados dos anos 2000. E o combo A Euterpia + Café com Arte tem um significado especial pra mim: foi por causa da banda, pra ouvir ao vivo as músicas que eu já curtia pela rádio, que comecei a frequentar o Café e a mudar, definitivamente (amém!), minha vida social - e musical. Parei de ir às "boatchys", aos pagodes, aos forrós e sertanejos (meldeos!). Eu vivia "drogada" e hoje estou curada. Aleluia, irmãos! Mas enfim, vamos voltar ao show.

O público... (gente, que público!). Não lembro de ter visto algo assim na vida. Lembrei logo do filme O Homem do Futuro em que a máquina do tempo transporta todo mundo para a mesma festa e tudo continua ali, do mesmo jeito. A diferença é que ontem, mesmo com tudo parecendo igual como era antes, todos já estavam cinco anos mais velhos, pelo menos. Mas a paixão por Euterpia continua a mesma. Não há dúvidas! Todos ainda sabiam cantar cada verso de cada música. Pularam, gritaram, se emocionaram. Já eu mal conseguia me mexer, por incrível que pareça. Influência do cansaço, claro – afinal, show do Felipe Cordeiro uma hora antes é pra destruir qualquer pé. Mas a verdade é que eu fiquei hipnotizada. Ver a Marisa com a mesma presença de palco (com certeza, uma das melhores que já vi) fez um filme enorme passar pela minha cabeça durante o show. Confesso que às vezes senti até vontade de chorar. Reviver e relembrar meus 17, 18 anos e tudo de mais lindo que aquele tempo me trouxe, foi uma experiência incrível. Acho que quando inventarem o teletransporte vai ser mais ou menos assim.

Deixando de lado Arrigo Barnabé e Veneza, que são clássicas e, óbvio, deixaram todos enlouquecidos no Café, o momento mais surreal pra mim foi a Marisa cantando Lusco Fusco. Aí foi nostalgia injetada na veia! Fechei os olhos e sumi dali. Sei lá em que mundo fui parar, só sei que foi assim: lindo!

O show foi curto, algumas músicas ficaram de fora porque a banda não estava completa e quase não tiveram tempo de ensaiar e blábláblá. Foi mesmo uma participação especial, como dizia no cartaz da festa. Mas acredito que todos tiveram a mesma sensação que a Marisa: a banda parecia nunca ter terminado. Parecia nunca ter parado de tocar o repertório consagrado. Os anos pareciam não ter passado. E a Marisa (aquela fofa!) estava tão à vontade quanto antes. Saudade tem dessas coisas.

Impossível não pensar nas clássicas perguntas “Por que acabou? Será que nunca mais volta?”, mas, como a própria Marisa disse, é bom saber que estão todos bem, felizes, seguindo outros caminhos e realizando outros sonhos. Só tenho a agradecer à Euterpia, à Marisa e ao Café por terem atendido ao meu pedido – que fiz por várias vezes, durante todos esses anos, bem baixinho, quase como uma prece. Muito obrigada, de verdade! Foi inesquecível! E, claro, voltarei a pedir por outros momentos como o de ontem. Vai que...

sexta-feira, 2 de março de 2012

A Vida da Gente – Mais Um Capítulo da Nova Teledramaturgia Brasileira

O que dizer sobre A Vida da Gente? Uma novela que mexeu tanto comigo, mas tanto, que nem sei por onde começar. Talvez seja melhor começar pelo óbvio, pelo começo. Então vamos lá!

Eu tive a imensa sorte de acompanhar a novela desde o início, desde os primeiros capítulos, tentando recompensar o fato de não ter conseguido assistir à Cordel Encantado – que antecedeu A Vida da Gente e recebeu rasgados elogios dos telespectadores, incluindo minha irmã e minha mãe. No início, o que mais me chamou atenção em A Vida da Gente foi o fato de que os personagens pareciam ser reais, tirados da própria realidade. A relação de amor, cumplicidade, companheirismo, carinho e respeito entre as personagens irmãs Ana (Fernanda Vasconcellos) e Manu (Marjorie Estiano) parecia ter sido inspirada na minha relação com a minha irmã. Como assistíamos juntas, por diversas vezes nos emocionamos e choramos ao ver as lindas cenas entre a Ana e a Manu, porque lembrávamos da gente, da relação de irmãs que construímos desde a infância e que pouquíssimas vezes eu vi em outras famílias.

Mas não eram só as irmãs da trama que pareciam ter sido tiradas da realidade. Em uma conversa de bar, eu e minhas amigas chegamos à conclusão de que conhecemos na vida real pessoas que faziam o tipo dos personagens da novela. A Eva (Ana Beatriz Nogueira), por exemplo, é cruelmente real. Claro que na novela há um certo exagero nos personagens, porque enfim, é um telenovela. Mas muitas vezes me flagrei rindo ou até mesmo chorando ao ver cenas da Eva porque algumas, caramba, eram parecidas demais com cenas que eu já vi ao vivo e a cores, infelizmente! A verdade é que existem, sim, mães e pais como a Eva, quase ou no mesmo nível de loucura. A Vitória (Gisele Fróes), mãe da Sofia e da Bárbara na novela, também é outra que não é surreal, impossível. E o que dizer da Cris (Regiane Alves), mãe do Tiago? Do tipo dela nós encontramos muito por aí, geralmente em baladas de domingo a domingo e geralmente bem mais novas do que deveriam ser.

A Vida da Gente foi uma novela centrada nas mulheres, em que as elas eram o centro dos acontecimentos, as protagonistas das mais variadas histórias familiares exploradas na novela. E foi uma trama essencialmente familiar, justificando assim o título – e também a abertura. Com núcleos pequenos e interligados, A Vida da Gente mostrou exemplos muito concretos das novas famílias contemporâneas, com a figura do padrasto/enteado, da avó que atua como mãe, dos pais adotivos, dos irmãos de criação, dos pais solteiros... E provavelmente por isso, também, tenha feito tanto sucesso. Porque era impossível não ter o mínimo de identificação com algum personagem, mesmo que a identificação fosse do outro e não de si mesmo. Nem as novelas escritas por Manoel Carlos – famoso por fazer tramas centradas na realidade – conseguiu ser tão pé no chão quanto essa, explorando situações cotidianas de forma real, sem superestima, sem enrolação, sem excessos de personagens e sem a insuportável figura da Helena.

Fora que boa parte dos atores escolhidos para os personagens trabalhou tão bem, tão bem, que chegou a me surpreender. A Marjorie Estiano, por exemplo, conseguiu dar vida própria à Manu. Era quase impossível não chorar quando a Manu chorava e não rir quando a Manu ria. Marjorie e Fernanda (que melhorou bastante como atriz, por incrível que pareça) protagonizaram algumas das cenas mais fortes, emocionantes, tocantes e inesquecíveis da teledramaturgia. A cena do acidente, do choque emocional, da briga – que rendeu mais de 8 minutos de cena que, de tão emocionantes, a gente nem sentiu o tempo passar -, da reconciliação... cenas incríveis que dificilmente serão esquecidas por quem as assistiu. Outro destaque de atuação vai para a pequena Júlia (Jesuela Moro) que, no mínimo, é uma menina muito obediente, porque ela fez direitinho tudo o que era pra fazer. Foi encantadora e sapeca quando tinha que ser, chata e mimada quando precisou, alegre e sorridente também, e até no momento de ficar doente ela conseguiu impressionar. Ela fez tudo parecer natural, real e fez todo mundo querer ter uma filha que nem ela. E a Eva... essa merecia prêmio de melhor atriz coadjuvante, porque olha... arrasou!

Há algum tempo, a Globo tem usado o horário das 18h para a renovação: desde a escolha de novos dramaturgos, passando pelo teste de novas câmeras e novos ângulos, até chegar ao figurino. Deu certo com Cordel Encantado e deu certo com A Vida da Gente. Em uma discussão em sala de aula, na disciplina de Introdução ao Telejornalismo, cheguei a comentar sobre essas mudanças e a professora afirmou que, possivelmente, isso é reflexo da chegada da TV Digital à vida de mais e mais brasileiros. E o horário das 18h está servindo de incubadora para novos projetos em teledramaturgia. É bem possível que os novos dramaturgos utilizados para esse horário sejam, em breve, os novos dramaturgos do horário das 21h. Não é de hoje que este horário tem andado deficiente, com falhas graves nos textos e nas execuções, tramas fracas e apelativas demais, a exemplo da atual novela das 9, Fina Estampa, escrita por Aguinaldo Silva. O próprio Manoel Carlos talvez esteja precisando se aposentar, porque tem errado demais ultimamente. As novelas da 9 continuam tendo boa audiência porque são novelas das 9 e só. E mesmo assim já existe um diagnóstico de crise no horário há algum tempo.

Como disse o Tiago Paolelli, em um comentário no Twitter, A Vida da Gente tinha um texto muito bom e uma fotografia incrível, pouco vista em outros horários de outras novelas. Não vai demorar muito para que Lícia Manzo, autora de A Vida da Gente, seja usada em horário nobre. Inclusive, eu acho, sinceramente, que a novela deveria ser reprisada no horário das 21h para que mais e mais pessoas tivessem a oportunidade de ver uma boa telenovela, um exemplo de como as outras devem ser a partir de agora. E não é à toa, não é por simples fanatismo por telenovelas bem trabalhadas, que eu quero – e provavelmente vou – utilizar A Vida da Gente como estudo de caso para o meu TCC. Boa sorte pra mim e boa sorte para Amor, Eterno Amor, que já começa na próxima segunda com uma responsabilidade enorme pela frente: a de manter o padrão altíssimo das duas últimas telenovelas das 6!

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

O "Jornalismo" em Santarém

Como muitos já sabem, estou participando de uma pesquisa de Iniciação Científica com foco nas regiões do Baixo Amazonas e Carajás e, basicamente, é necessário que eu conheça um pouco mais sobre os produtos midiáticos dessas regiões, incluindo, por exemplo, os jornais impressos. O meu colega de pesquisa, Adrielson Acácio, foi a Santarém no ano passado e gentilmente trouxe três dos principais jornais que circulam pela região do Baixo Amazonas. Um deles é o jornal O Impacto que traz na capa a seguinte descrição: “Polêmico, Atualizado, Audacioso, Corajoso e Verdadeiro”. O jornal custa R$ 2,00 (sim, dois reais!), possui 32 páginas e circula em Belém, Santarém, Alenquer, Aveiro, Juruti, Itaituba, Novo Progresso, Oriximiná, Óbidos, Rurópolis, Belterra Altamira, Placas, Curuá, Uruará, Porto de Moz, Terra Santa e Monte Alegre.

Depois de ler algumas matérias, fiquei muito impactada (já que o jornal se chama O Impacto, né, faz sentido) de ver o quanto os textos são mal escritos, mal editados e de uma chapa branca que eles nem se esforçam em disfarçar. Até então, eu achava que boa parte das matérias desses jornais eram escritas e editadas por jornalistas – formados ou não. Mas depois que eu li o que eu li, retiro as minhas antigas suposições. Se um dia eu for professora do curso de Jornalismo, vou usar essas matérias como exemplo de “como NÃO fazer”.

Engraçado como apenas cinco parágrafos foram capazes de me fazer relembrar de todos os conceitos e técnicas de Jornalismo que eu aprendi em três anos de faculdade (até agora) e que definitivamente não foram aplicados nesta matéria transcrita abaixo:

Aveiro

SECRETÁRIO MUNICIPAL DE ADMNISTRAÇÃO VISITA VILA DE FORDLÂNDIA

O prefeito Ranilson do Prado desde o início do seu governo tem dado atenção especial a vários setores da administração pública que estavam no esquecimento pelos governos passados, como saúde, educação e infraestrutura. Tanto é, que vários logradouros públicos já foram recuperados, bem como outros foram construídos, como é o caso da Praça da Vila de Fordlândia que está sendo construída com uma arquitetura moderna, feita pela artista plástico Apolinário.

Na última segunda Feira (10), pela parte da manhã, o Secretário de Administração do município de Aveiro, André Paxiuba, esteve pessoalmente a Vila de Fordlândia, acompanhando de perto os trabalhos da Praça daquela Vila que está sendo construída pela Prefeitura.

A obra está sendo feita com recursos da própria prefeitura de Aveiro. O secretário André Paxiuba conversou com o responsável pela obra, o artista plástico Apolinário, que na ocasião, informou que a expectativa é de que a praça seja inaugurada no dia 25 deste mês, quando acontece a tradicional festa do Balão Vermelho em Fordlândia.

A respeito da recuperação do antigo galpão construído pelos Americanos, que fica localizado no trapiche da cidade, André Paxiuba disse que a Prefeitura já comprou 2.482 pedaços de vidros, que serão colocados nas janelas do Galpão. Ele acrescentou que por serem vidros bem temperados e especiais, o trabalho está sendo mais demorado, porém, vai ser executado pelo poder público municipal.

Conversamos com o artista Apolinário, que falou de sua alegria em trabalhar com o atual Secretário, que em sua opinião é uma pessoa educada e atenciosa. André Paxiuba é tido até por parte da oposição como uma pessoa humilde e de bom coração, sendo que como Secretário, está desempenhando um papel fundamental no governo de Ranilson Prado.

P.S: A matéria foi transcrita exatamente da forma como foi publicada no jornal, com todos os erros, discordâncias e puxa-saquismos. A impressão que dá é a de que a função de Editor é inexistente (e a de repórter também, diga-se).